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Versos à Bondade de Minha Irmã

Escrito por Rodrigues de Abreu. Publicado em Rodrigues de Abreu

 

Eu não tenho direito nenhum a ser triste! 

É verdade que a minha mãe
era a melhor de todas as mulheres,
e me queria mais que aos meus irmãos
porque eu era fraquinho...
E um dia a minha mãe morreu.
Morreu a minha mãe numa tarde macia,
de céu azul de alegres namorados.
E eu fiquei, desde aí, com os pulmões atacados,
por não dormir, a pensar na mãe que me queria. 

É verdade que eu sonhei umas coisas doiradas!
Minha noiva beijou a minha fronte.
Ficou muito mais claro e mais perto o horizonte,
mais veludosas as estradas;
brilharam estrelas num céu mais formoso;
cantou, de contente, a água da fonte,
quando o beijo da minha noiva, silencioso,
me fez sonhar ingênuo umas coisas doiradas! 

É verdade também que a minha noiva, um dia,
para sempre fugiu da minha vida,
e as minhas coisas doiradas
se evaporaram no ar.
Ficaram mais tristes as estradas,
distanciou-se o horizonte,
secou a água da fonte
e as estrelas deixaram de brilhar,
quando fugiu a minha noiva! 

Mas, não tenho direito nenhum a ser triste!

Tenho uma suave irmã que não me foge,
que me adora com loucura,
e que, depois que fiquei chupado e doente,
cuida de mim com muito mais ternura.
Tenho uma irmã que é boa como todas as irmãs,
frágil e linda como as namoradas! 

Em verdade, perdi minha mãe, minhas coisas doiradas...
Mas, não tenho direito nenhum a ser triste,
porque, quando fico triste,
minha irmã se entristece... 

Vou rasgar o papel em que pus estes versos.
Sinto o riso de minha irmã que vai entrar...
E eu não quero que a minha irmã
tenha vontade de chorar!

 

Publicado no livro Quarto de Doente, em 1924.

 

 

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