Versos à Bondade de Minha Irmã
Eu não tenho direito nenhum a ser triste!
É verdade que a minha mãe
era a melhor de todas as mulheres,
e me queria mais que aos meus irmãos
porque eu era fraquinho...
E um dia a minha mãe morreu.
Morreu a minha mãe numa tarde macia,
de céu azul de alegres namorados.
E eu fiquei, desde aí, com os pulmões atacados,
por não dormir, a pensar na mãe que me queria.
É verdade que eu sonhei umas coisas doiradas!
Minha noiva beijou a minha fronte.
Ficou muito mais claro e mais perto o horizonte,
mais veludosas as estradas;
brilharam estrelas num céu mais formoso;
cantou, de contente, a água da fonte,
quando o beijo da minha noiva, silencioso,
me fez sonhar ingênuo umas coisas doiradas!
É verdade também que a minha noiva, um dia,
para sempre fugiu da minha vida,
e as minhas coisas doiradas
se evaporaram no ar.
Ficaram mais tristes as estradas,
distanciou-se o horizonte,
secou a água da fonte
e as estrelas deixaram de brilhar,
quando fugiu a minha noiva!
Mas, não tenho direito nenhum a ser triste!
Tenho uma suave irmã que não me foge,
que me adora com loucura,
e que, depois que fiquei chupado e doente,
cuida de mim com muito mais ternura.
Tenho uma irmã que é boa como todas as irmãs,
frágil e linda como as namoradas!
Em verdade, perdi minha mãe, minhas coisas doiradas...
Mas, não tenho direito nenhum a ser triste,
porque, quando fico triste,
minha irmã se entristece...
Vou rasgar o papel em que pus estes versos.
Sinto o riso de minha irmã que vai entrar...
E eu não quero que a minha irmã
tenha vontade de chorar!
Publicado no livro Quarto de Doente, em 1924.